quinta-feira, 15 de março de 2012

Tinta.

O Azul ganhou outra força. Essa cor mágica que me pintou dias e noites, que dava os últimos acabamentos às historinhas diárias que preenchiam os cadernos vazios. Essa mesma cor que se envolveu nas minhas lágrimas para pintar novos quadros, ou para escrever mais histórias, tão diferentes, com pessoas tão diferentes, com homens-meninos tão diferentes. Histórias Azuis, sem fadas nem dragões, só com uma Mulher e um Homem, tantos homens, que em nada foram felizes para sempre, nem tinham castelos, coroas ou espadas. Tinham apenas Azul. Nos dias que passavam e nas noites onde não dormiam, onde trocavam beijos Azuis, carícias Azuis, sentimentos Azuis. Eram histórias encantadas por aquela tonalidade mediúnica, que tornava cada história, de cada homem, melhor e mais fantasiosa que a anterior. Faziam-me sonhar mais profundamente, infinitamente tendo os limites do mundo como barreiras físicas de um engodo frágil que se podia confundir com uma onda pequena e perdida no oceano; ou com um pedaço de céu entre duas nuvens recortado. Era o Azul que me movia, não eram os homens. Só descobri o poder dessa cor quando tornei a escrever e a tinta já não era Azul. Todas as lágrimas, que encerraram as histórias inacabadas que guardei nas linhas ciânicas que escrevi, haviam secado. A tinta para escrever a nova história ainda estava por descobrir. Talvez no meio da horta ou no prado. Talvez as manchas de terra fresca pudessem substituir as palavras, tão pobres em significados.