segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Co(r)po meio cheio/vazio.

Há dias vazios.
Ultimamente todos os dias são vazios.
Nem o calor de uma alegria
Tão pouco o gelo da separação.
Pensei que a saudade
Ainda servisse para fazer volume
Para ocupar espaço
Talvez para dar algum significado.
Afinal,
dias cheios de saudade
Não seriam dias vazios.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carta ao(s) Leitor(es).

É certo que não escrevo para alguém.
Podia começar a chamar ordinário e infame, a todo e a qualquer leitor deste ESPAÇO. Podia escrever coisas sem nexo, sem pontuação (isso também Saramago fez, e não ofendia ninguém! A não ser, talvez, os iluminados que julgam perceber muito do assunto, difamando este génio criativo sem nunca terem tocado num livro!). Podia escrever coisas feias, mesmo feias, calão do puro para agradar ao people da pesada. Até mesmo com asneiras! Podia (d)escrever o meu dia, revelar aos invisíveis leitores (do que passaria a ser o meu diário) segredos profundos e carregados de mágoa, que me assombram o sono, os sonhos, que me fazem desfazer em lágrimas, antes mesmo de os tornar parte da minha imaginação! Ainda seria capaz de escrever coisas convencionais para me agradar a mim mesma, aos que me rodeiam, para que esses lessem e comentassem, só positivamente, como é evidente. Porém escrevo para uma multidão de sujeitos inexistentes, que choram e riem com a ironia ou com a dor que projecto nas letras e nas palavras. É para esses que escrevo. É para esses hoje que falo, como nunca antes falei, pois não fomos formalmente apresentados e não gosto de falar com estranhos, nem mesmo por telefone.
A vocês, que se mantêm no silêncio do meu pensamento, um Obrigada.

Nunca deixem de acreditar na força das palavras, mesmo quando bramidas num deserto infinito de sombras e passagens. Pois, mesmo no deserto quem tu és, quem eu sou, estará sempre presente e será sempre o mais importante leitor.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Janela .

Tenho um vazio
Cheio de horas perdidas
A dançar diante do espelho.

A ponta do pé quase toca
Quase roça
A beira da janela aberta.
Deixa entrar o infinito
Da manhã clara.

As nuvens dissiparam
No ar paira ainda o cheiro molhado
De relva verdejante.

Agora,
Talvez dance no parapeito da janela
Para que o infinito me chame
Me envolva.

Já sinto o pé a tocar na nuvem que não está lá.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Não cama não se fala de todo.

[Acto I]
- Olha...
- Diz lá...
- O que vês?
- Mais uma pergunta idiota! Vejo o tecto, a brancura sem graça de um tecto alto.
- Só é tecto que vês?
- Se levantar um pouco o pescoço do travesseiro talvez consiga ver o candeeiro, mas de nada vale, pois nesta penumbra apenas veria sombras.
- Mesmo assim.. Lamento que nada vejas!
- Nada?
- Sim, nada. Numa noite estrelada como esta deverias ver todas as constelações do hemisfério Sul.
- Lá estás tu! A persiana tem o estore corrido para baixo, nenhuma estrela veria se levantasse o pescoço.
- Pois eu consigo ver, mas talvez seja eu.
- Que estrelas vês tu afinal?
-As do infinito. As estrelas que os teus olhos deixaram escapar quando me cravaste as unhas nas costas, me gritaste ao ouvido um segredo interminável de palavras soltas e te deixaste cair no meu regaço. Nessa altura não havia limites e as estrelas desprenderam-se inquietas. São essas que vejo.
- Ora, que estupidez. Vamos dormir agora, sim?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Desatinos.

Não sei porque ainda espero. Não tenho mais posição sentada nesta cadeira vulgar. Talvez se tentar dormir um pouco, talvez o tempo passe mais depressa se não olhar o relógio, talvez se fechar os olhos. Acho que o tempo está a passar, mas não o posso garantir, pois de olhos cerrados, ansiando o sono, não o posso verificar. Talvez devesse ver as horas. Só mais uma vez. Se ele vier e eu não estiver acordada, ele pode partir! Não posso permitir que tal aconteça, afinal, já estou com demasiadas dores de ficar nesta posição ordinária esperando que o tempo passe para ele chegar. Tenho que lhe fazer a melhor das recepções. Com muito calor, pois se ele entrar por aquela porta saberei o frio que sentiu. Pois o vidro baço, coberto de milhares de gotículas frias, não passa despercebido à lareira que arde, no canto da sala, junto do vaso partido e da estante vazia. Ele virá com a sua face lívida e os seus lábios enrugados do frio, e talvez me faça arrepiar quando se aproximar da minha pele quente. Demasiado quente, diria. Escorre, efectivamente, um fio de suor pelas minhas costas, contornando a coluna dorsal como um pincel deslizando sobre a tela em branco, no inicio da manhã laboral de um artista de rua. Não me quero mexer, embora o suor me incomode à medida que escorre. Porém, se me mexer a dor crescerá e eu não saberei suportar mais a espera.
E se ele chega e eu estiver limpando esta maldita secreção natural?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fauvismo.

Todos nós nos sentimos sós. Uma vez na vida, que seja. Na escuridão do Mundo, no cantinho mais escuro, mais tenebroso da nossa vida, lá estamos de castigo, com as vergonhosas orelhas de burro, virados para a parede. Estamos sós. E estamos bem. Pensamos da dor de estar com alguém, pois é a solidão que faz bem. Faz crescer, na reflexão que o escuro nos atira, para nos alimentar. Somos não mais que feras esfomeadas de solidão, que o Mundo controla constantemente, atirando um pedaço de cada vez.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Rabia.

Pára de esmurrar a parede, por favor!
Os pregos, que te descarnam os punhos, não são os culpados da má língua que corre pelo corredor fora.

sábado, 27 de novembro de 2010

Como construir um Pelourinho.

Pedras, quero ver as pedras a esvoaçar.
Projectadas sem dó nem piedade, atingindo com força os corpos inertes. Grandes pedras, pesadas pedras. Que arranquem os bocados da carne já fria, espalhando o sangue no chão.
Quero rir-me daquela figura despedaçada que toma o lugar do espantalho velho, que outrora se dedicou à prática intensiva do susto. A figura, que é já espantalho sem olhos, está na praça pública à mercê de Ti, que apedrejas sem dó, sem penar. Quando a figura te pertencia, quando no calor sabias que a tinhas, o trigo do campo não te interessava. Que o diabo o levasse! Os dias no interior do quarto, sem os olhares inquisitórios da multidão furiosa, traziam-te a felicidade que até então desconhecias. E nas palavras doces, murmuradas no teu pescoço, sentias a tentação de comer a última fatia da tarte, que arrefecia na janela.

Porém, da figura a verdade surgiu. Assim, de repente, não mais que de repente, não estavas num quarto fechado nem dançava no ar o cheiro guloso da tarte, já fria. Ficou apenas a doçura da carne que bate na calçada, pedaço após pedaço, alimentando os corvos que poisam junto daqueles pés descalços.
Os pés da figura condenada, que arrancavas de ti à pedrada.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Realeza

"Neste mundo não podemos passar uns sem os outros.
É muito raro podermos confiar em alguém, mas é preciso, quase sempre, fingir que confiamos."

Rainha Cristina da Suécia.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Hipocondria .

Nada. É alguma coisa. É nada.
É legítimo, então, dizer que ainda sinto algo. Apesar de ser nada aquilo que sinto. É nada!
O êxtase da felicidade descabida dançou, rodou e caiu numa tristeza inflamada pelas ásperas cinzas da escuridão em que me vi envolvida. E entre cada extremo jorraram, esvaíram-se emoções! Por todo o lado, à queima-roupa acertaram até em quem não merecia uma emoção na cabeça. Inocentes almas decepadas por lancinantes emoções que voavam perdidas pelo ar. E entre um extremo e o outro o tempo fugia

[Anda cá, Bandido!]
de mansinho, disfarçado no meio de tanta emoção

[Apanha que é ladrão!].
Nem dei por ele passar e ir embora!! Pois, hoje, o tempo não passa mais, onde os dias são apenas dias, iguais a dias, que são iguais a dias que por ai passaram, pararam e desapareceram, por fim.
Hoje as emoções perderam-se de vez, não se limpam armas, nem tão pouco corações.
Simplesmente, não sinto Nada.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crafts.

Não é o silêncio
Não é ele que temes
Palavra alguma ecoa
E no espaço vazio
Que no coração deixou
Não o ouves
Palavra alguma ecoa.

No resguardo
Das palavras guardadas,
Com uma indiferença imensa,
Ele e tu
Fazem agora todo o sentido.

Se juntam
Unem as mãos
Os braços
São abraços
Que te forram as paredes
Do orgão sentimental
Acolhedora casa
Para onde te voltas
Quando a solidão,
O medo do mundo,
Te assombra.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Obesidade .

Não consegue ver
Ao fundo da cama está uma luz.
É apenas um clarão pequenino
Mas não o consegue ver
Não sabe que segredos esconde
A Luz.
A Luz que não vê
Tão perto,
No final do colchão,
Por de trás dos pés inchados
Por de trás do estômago farto
Que se alimentou
De sonhos,
Tantos sonhos.
Agora,
Estão envoltos no negrume da noite
Do quarto
Mal iluminado pelo clarão
Do único sonho que não consumiu.
Da candeia acessa
Ao fundo da cama
Demasiado pequena.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mito.

Há dias,
Talvez momentos
Que és Atlas, o Titã.
Que nos teus ombros nus
Carregas o peso do Mundo,
A fome dos dias felizes,
O frio do abraço esquecido.
Suportas arduamente
Sem um penar soltar.

És Tu apenas
Que sustentas o peso,
A dor de suster,
A dor de querer, ou não,
Ser tudo e ser nada
De segurar as pontas ao Mundo
De o aconchegar nas estrelas
Manter a ordem e o caos
Fechados por de trás dos teus dentes
Para não acordar a vida
Que continua a caminhar
Adormecida em terno sono
Embalada pelo respirar baixinho
Que do teu peito nasce
Fatigado.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Última Elegia (V)

(...)
meus passos
são gatos

Comendo o tempo em tuas cornijas
Em lúridas, muito lúridas
Aventuras do amor mediúnico e miaugente...
So I came

- from the dark bull-like tower
fantomática

Que à noite bimbalha bimbalalões de badaladas
Nos bem-bons da morte e ruge menstruosamente sádica
A sua sede de amor; so I came
De Menaipa para Forox, do rio ao mar - e onde
Um dia assassinei um cadáver aceso
Velado pelas seis bocas, pelos doze olhos, pelos centevinte dedos espalmados
Dos primeiros padres do mundo; so I came
For everlong that everlast - e deixa-me cantá-lo
A voz morna da retardosa rosa
Mornful and Beátrix
Obstétrix
Poésia.
(...)
Vinicius de Moraes

Desarrumação.

Pintei-te.
E hoje não estavas lá.
Foste tomar um café?
Podias ter deixado tudo arrumado!!
Estou farta de tropeçar em ventrículos abertos, vasos capilares partidos e de me desviar de poças (leia-se pôças!) de sangue venoso!
Raios te partam!

domingo, 14 de novembro de 2010

Como construir uma Fonte.

Copiosamente. É o segredo. Duas grandes fontes, grandes e límpidas fontes, jorram copiosamente.
E copiosamente é o segredo. Não param, não sossegam.
Talvez se lembrem de secar durante uns breves instantes, mas, copiosamente, deixam cair, escorrer, as lágrimas.
Se os automóveis pudessem viajar a lágrimas! A ecologia deixaria todas as convenções e passaria a ser Azul.
Porém, a ecologia, as árvores e os oceanos não sentem nada. Alimentam-me, assim, o desejo de ser parte da ecologia Azul, que brada do lado de fora da minha janela. Poderia ocultar ao Mundo qualquer faculdade humana (insana!) que na terrível condição de menina ladina me deixa constantemente, copiosamente, as lágrimas jorrarem.
Se alguém atirar uma moeda e pedir um desejo, talvez ele se realize quando bater no fundo das lágrimas. Ou talvez alguém arregace as mangas e procure no fundo das lágrimas alguns trocos abençoados. Para café; com sorte, para tabaco. Já ninguém compra presentes.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Como construir um Castelo.

Os dias cinzentos voltaram. Como senti falta deles.
Vêm constantemente, sem avisar. Nem um postal (com a morada do destinatário escrita do lado esquerdo, onde há mais espaço para divagar sobre uma rua qualquer). Aparecem, assim. Com tal falta de aviso prévio que nem dão tempo para se por as contas em dia! Afinal, baldes de tinta, pincéis e diluente ainda se tornam despesa, com a frequência louca com que são adquiridos. E a mão de obra? As paredes de uma alma, de uma casa cinzenta não se pintam sozinhas! E o coração? Quem tratará de o remodelar? Dissolver todo o nevoeiro, abrir uma janela e deixar a fumaça voar, misturar-se nas nuvens da calçada. Alguém deve fazer esse trabalho ingrato! Como podem os dias cinzentos querer voltar se ninguém lhes dá o tratamento principesco que eles merecem? Eles que vêm, que apagam a cor que tão arduamente foi compondo a felicidade, lembrando, mancha após mancha, que a promiscuidade de um sorriso é tão fatal como a escuridão dos pesadelos. Só tornam a parede mais grossa, obrigam a tinta, a cor, a procurar preencher a lacuna que o vazio do cinzento deixou. Camada após camada.
Hoje, a casa já não tem paredes, de facto. Tem muralhas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Palavra das pessoas que nos Amam é sempre importante.
É almofadar um bocadinho o espaço vazio que fica no Coração.

domingo, 7 de novembro de 2010

Dia internacional da palavra Amo-te.

Já não sei escrever sobre Amor
Já não sei se sinto Amor
Talvez nunca tenha sentido Amor
Talvez não exista Amor.
Alguém sabe?
Quem sabe?

Hoje não sei se quero Amor.
Não quero Amor.
Não O procuro.
Ao Amor, entenda-se.

Hoje sinto que este sentimento me bate com força no peito, que me consome os minutos, os segundos, mas não as horas! O sentimento, o algo, a coisa, a cena está cá. Porém, não quer estar.
Hoje dedico o dia ao Amor. À palavra Amor. Ao amar alguém. Ao Amo-te. À palavra Amo-te.
Vejo-a no dicionário, vejo-a nas casas, nos carros, nas ruas, nas pontes. Mas não a sinto.
E talvez não a queira sentir nunca mais, porque os dias dedicados a esta palavra são iguais aos outros, são dias como outros dias.

São só dias.
É só uma palavra.
É só Amo-te.
AmoteamotetamotamotemotemoatemoaTEMO-A.
(Mais um cão?)

A sério?

Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te.Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. Amo-te. 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Quando é que o raio da palavra começa a perder o sentido?
Se é que alguma vez o teve...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Metamorfose

"E quando no fim da viagem, Grete se levantou e distendeu diante deles o corpo jovem, pareceu-lhes que os gestos da filha eram uma confirmação daqueles novos sonhos - um encorajamento para as suas boas intenções."
Kafka

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Presente do Indicativo

Sem laço
Sem papel pardado
Aberto de par em par
Deixando os pequenos
Remoer-lhe as entranhas
E os graúdos
Olharem-no de longe apenas
Com medo de quebrarem
(Rotinas)
Com medo de partirem
(Corações)
O preço de nada tentarem
De voltar à infância perdida
E tomarem nos braços
(Nos abraços apertados)
O Presente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Alice para lá do Espelho.

É no espelho que se vê.
Nua,
Fria.

Deseja aquele corpo
Que na penumbra Azul
Oscila na água cristalina
Que lhe afoga o rosto.
Trémula,
desliza em si,
No gelo da carne crua
Que não lhe pertence,
Que jamais lhe pertenceu.

Os dedos finos,
longos,
envolvem-se no suor frio
Do corpo nu
Que dança imóvel
Na quietude do espelho.
Perdem-se e reencontram-se
Num segundo ou em dois.

E na hora de partir
Quando o desejo se entorna
E a encharca
O espelho não está mais ali.
O corpo nu se aquece
Nos braços que não são seus
Que a envolvem
E a desejaram
Outrora.

sábado, 23 de outubro de 2010

Resfriado .

Multidão que caminha
Rostos iguais
Corpos iguais
Caminham.
O cheiro é o mesmo
É o cheiro das vidas
Das horas que passam tão depressa
Das horas que são meros minutos
É o cheiro do Adeus.
Do até nunca
É um cheiro só.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Marcas.

Segue-lhe os passos, marcas vazias no cimento da estrada. Deserta, talvez. Não ouvira carro algum acercar-se. E já ali estava, a contar as pedras da calçada, havia um bom par de horas. Só ela passara. E com ela o múrmurio das vozes, aquelas que rogam pragas nas costas, que lhe arrepiam a nuca, húmida do suor amaldiçoado pelas tragédias da existência. As vozes ecoavam, ainda, num dialecto que lhe era desconhecido, mas ainda assim dialecto, que dialogava com as entranhas do seu inconsciente.Ele não sabia, porém, compreendia tais palavras estranhas , sabia o fogo que as envolvia.
Essas vozes; foram elas que o fizeram levantar-se e olhá-la, e perdê-la no horizonte. Elas que nada diziam, contaram-lhe os segredos do corpo nu que se afastava. Revelaram as marcas negras, que lhe pontuavam o dorso pálido, que lhe envolviam os pulsos, tão magros e cansados. Também os olhos, que passaram tão baixos, como se o chão que pisava os puxasse para si, também os olhos vermelhos, onde outrora verdes foram, vermelhos e inchados, lhe vincavam as rugas que ela não tinha, e se lhe foram denunciados pelas vozes, corrompidas e mórbidas.
Ele soube assim, sem olhos tocarem na pele nua que se arrastava por baixo da saia Azul esvoaçante. Da camisa nem a cor ficou, só os passos vazios, marcas apressadas, no cimento negro da imensidão do futuro que os aguardava.
Assim vai, segue-lhe os passos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Solhas e Linguados.

"Sonho"; é uma palavra pouco agradável ao ouvido humano. Lembra, talvez, parte do nome científico de um peixe, por aí esquecido, cruzando qualquer onda, num oceano qualquer. Cinco letras, duas sílabas, duas vogais, possuidora de um ditongo nasal, é esta modesta palavra que, desde o início dos tempos, faz descarrilar a evolução humana e elevar os Homens à condição de supremos seres racionais do Mundo e universo em redor.
É dentro de cada caixa pensante , de um e cada indivíduo deste planeta, que surge um mundo de cores, aromas e lugares. Conceitos e ideias completamente desconectadas da realidade, difusas e descontroladas da norma e do dever.
Um mundo único e intímo para cada e todo o ser Humano.
Nha.. Nhando.. Sonh.. Sonhando.

domingo, 10 de outubro de 2010

Clave da Gaiola.

Escrever sobre coisa nenhuma
Mas ainda assim escrever
É deixar sair
A aprisionada fera
Que na gaiola das loucas encubava.
Lá, onde tudo é errado
Onde o certo é errado
Onde o errado é errado
A fera impaciente caminha
Desenha círculos no chão
E vocifera, ferozmente
E Fera voci, vorazmente
Que nada é errado!
Nada.

Já não são círculos
São luas
E cheias.
De raiva e tinta preta
Que das luas cheias
Nascem colcheias
E a música se faz.
Amansa a fera
Que entre mínimas
Se enche de Sol
E abre com a clave a gaiola.
As loucas fogem consigo
E perdem-se na canção.

Agora coisa alguma se entoa
Está escrito nada
E nada é a música do silêncio
Que as loucas dançam
Que a fera escuta
Que se sente apenas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ensaio sobre a Cegueira

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade"

José Saramago

sábado, 2 de outubro de 2010

Aneurisma .

Rolou-me da boca para fora
O que me rebentou
Da minha veia criativa
Deixou ensanguentado o chão
As paredes
E a porta
Que Ele bateu quando saiu.

Violada calma
Violentada plenitude
Violência das entranhas
Viola no vão das escadas
Dedilhando o destino
O Fado que te prendeu
E te deixou as marcas negras
Das minhas doces mãos
Em teu peito cravadas.

Escorre nas paredes e no chão
Mancha a carpete de veludo Azul
E para ela corro
Me atiro e rebolo
Nua, vibrando
As cordas da viola seguindo
São dois braços, são dois braços.
Que para nada servem
Pendendo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Paradiso .

O cabelo negro, que lhe caía nos ombros, balançava violentamente.
De cotovelos firmemente apoiados na colcha Azul, que de tanta agitação deixava adivinhar os lençóis brancos de linho, olhava o tecto. A sua cabeça pendia para trás, permitindo-lhe a bela panorâmica que se abria ebúrnea diante dos seus olhos. O paraíso retribuía-lhe o sorriso feliz. Mais que a modesta tinta branca, eram nuvens que dançavam sobre o seu corpo desprotegido, nu. E nesse sorriso, de par em par, via a magia do limiar da vida. A barreira mais complexa entre a vida e a morte, entre o nascimento e a reencarnação. A insustentável leveza que dela fluía, naquele preciso instante, procurava ascender ao éden, o mesmo que contemplava com os seus olhos felinos. Talvez se os fechasse, aquele espectro do que era, não se escapasse de si. Talvez permanecesse encantado, qual serpente, pelos gemidos de ócio e prazer que se lhe escapavam, pontualmente, da garganta.
Decidiu então gritar. Do peito lhe saiu a canção mais bela que alguma vez escutara. Uma indecifrável mistura de notas graves e agudas ecoou por todo o quarto e bateu na janela, qual insecto perdido na vidraça fechada. Os olhos, que não fechara, abriram-se e viram finalmente o que se escondia para lá das nuvens baças, que flutuavam, embaladas pela melodiosa composição que lhes bradara. Espreitando do outro lado do espelho, não era Alice que lhe sorria. Era Ele. Reflectindo na pele morena o sol que entrava pelo pequeno postigo. Longe das nuvens, o paraíso estava bem mais perto do que a sua imaginação a levara. Sentia-se leve, tão leve, que a sua força escorria pelas costas nuas, entre as chagas de suor, ameaçando baixinho que a deixaria cair nos braços fortes que, até então, a abraçavam. Contudo, temor algum se apoderava de si, ao ser achada pelo seu sorriso ebóreo, que suspenso bailava no seu olhar. Olhos seus jamais cruzariam outro oceano, deixando ao sabor do vento réstias da melodia única, que num momento, ou em dez, entoara. Da imensidão se fez a paz. E o tecto branco não estava mais ali. A colcha Azul sumira. E o Sol misturava-se na revolução de cores que a penetravam com força, revelando-lhe o melindroso caminho para a Luz. Para o Paraíso. Para Ele.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Agosto.

Sob o olhar perdido
Que vagueia sem dar por isso
Sobejam campos amarelados.
Não dourados,
pois o ouro que os banhava
Perdeu-se no ar de Agosto.

É na imensidão do trigo seco
Que vagueiam os seus sonhos
Os sonhos reais
Tão seus.
Aqueles que tivera nas mãos
E voaram com a brisa de Agosto.

Fecha os olhos
Para o ver uma vez mais
Trocando o vasto campo
Pelo sorriso que a enternecia
Pelas palavras, as mil palavras
Que ecoavam em Agosto.

Os campos continuam a correr
Bem como horas e dias
Setembro chegou assim,
Amarelo canário
Na sombra do que fora nela
No Azul de Agosto.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Promissão do Quinto Império

"- Deixe ser. Quanto mais absurdo, mais poético! Quanto mais poético mais verdadeiro. Logo, silogisticamente, (se as premissas não estão mal) (e valha-me Noval...!: a segunda até está bem; e a primeira não está mal) - quanto mais absurdo, mais racional."
Vicente Sanches

Uma Resposta.

Uma certa vez, uma linha pequena andava perdida nos meandros da terra, entre outras tantas incontáveis linhas que recheavam, que se amontoavam, no espaço imenso (Azul) que tinham sob si próprias.
Mas aquela linha, a pequena continuava perdida, pois as linhas não têm boca, não podem dar, nem pedir indicações. Também não têm olhos, não podem ver um mapa. E não sabem para onde vão, pois não têm cérebro. Não se sabe ao certo se é um coração que bate, uma alma que pulsa, ou , simplesmente, a força gravitacional que as move. Mas na verdade as linhas circulam, vagueiam, percorrem o mundo que não sabem ser delas.
Aquela, a linha da primeira linha, continuava a passar perdida, sem saber que estava, efectivamente, encontrada sob o olhar de um público invísivel no grande espectáculo mudo e fantástico do qual era protagonista. Assim nada mais seria digno de se registar , se não fosse uma outra linha tão igualmente perdida; tão dona da sua unidade, que foi esbarrar contra a primeira linha, da primeira linha. Tal acontecia com frequência às linhas indigentes, que correr mais depressa que o tempo sem o contar. Porém, aquela primeira linha, da primeira linha e a linha da nona linha, que eram unas, como tantas outras, e da sua unidade se fez o Universo. Magia engarrafada, pronta a sair no mercado. O maior cliché de linhas que se encontram e se envolvem, num choque frontal, lateral ou de traseira, numa sintonia e tosca, que nada tem de branco com olhos encarnados, saindo de uma cartola. Só duas linhas que perderam a sua unidade, num momento ou em dez. Era aquela linha, a primeira pequena, e aquela linha, a nona de tamanho incerto. Eram elas e não outras duas, que se encontravam nelas próprias , na conjuntura da sua unidade. E d'una, virou mar, imensidão, infinito. Uma só, mais rica, sem qualquer orgão vital, e com um futuro assente no vaguear da própria solidão. E das linhas sós se fez uma, um todo que fora outrora um só.
Haverá mais valorosa unidade que a de si só e do mundo seu, que é ela própria? É o destino a linha una, é ele a primeira e a última linha que procuram alinhar-se no correr do mundo e dos dias.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma Fatalidade.

Espero por Ti, que já não vens.
Eu sei que não vens, porém, continuo a esperar; sobre os pés, já inchados e doridos, ergo-me e caminho na sala escura, calcetando cada mosaico do chão, fazendo contas infinitas de cabeça, sentindo o tempo que me passa nas veias, e te leva, a cada batimento, às mais recônditas células do meu ser.
Já não vens, sei eu bem. No meu imo acredito que é possível encontrar o que nunca perdi, porque nunca me pertenceu realmente. Acredito que, de par em par, o teu sorriso se abrirá só para mim como numa noite perdida, numa manhã encontrada, que outrora existiu.
Toda a Criação é fatalista. Tu chegaste, partiste, e hoje, que espero por ti, não voltas.
Destino?
O que é o destino?

Eu respondo, eu prometo que respondo!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mazurka .

Hoje tu és leve.
És um floco de neve
Frágil
(sinto-me frágil)
Uma unidade complexa
Única
Una.
Que lhe cai nos braços
Que se lhe deixa cair
Que pousa.

Os braços poderosos
Detêm todo o poder
Eventualmente
Esmagariam o floco
Ou, simplesmente,
Abandonavam as forças
Criando o abismo
E frágil
(esta noite estou tão frágil)
Se desmancharia no chão.

É doce, porém
Que te ampara
Que te sustem no ar
E te vê balançar perto de si
É firmemente, porém,
Que te segura
Apoiando suas mãos quentes
No teu cristalino ser,
Que derrete e se perde.
Virando pluma,
De ave verdejante.
Nas mãos que te acalentam,
Firmes te agarram
Te libertam
E te fazem voar.

domingo, 5 de setembro de 2010

Jack, o Estripador

" Os modernos estudos sobre o perfil dos “serial killers” indicam que eles, em sua maioria, são homens brancos, com Q.I. acima da média, desajustados no trabalho e na escola, de famílias instáveis, mães dominadoras, que odiavam os pais, sofreram abusos – psicológicos, físicos e/ou sexuais – quando crianças, com tendências ao voyeurismo, fetichismo e piromania, propensões suicidas, interessados em pornografia sadomasoquista, padeceram de enurese (urinavam na cama, quando crianças) e começaram suas carreiras torturando animais.
Todos nós conhecemos pessoas que se enquadram nesse perfil. Não? "
Rubem Fonseca

sábado, 4 de setembro de 2010

Afefofobia .

Olhava as mãos
Nada via
Além de carne.
Com as mesmas mãos
Fizera o mundo
o seu mundo.
Movera destinos
De planetas, de estrelas
Mudara o futuro
E fizera do passado nada.
Com as mesmas mãos
Que o sentiam.
As mesmas mãos
Que o devoravam
Aquelas mãos
Que nada viam.

Repugnância,
Pudor da carne nua
dos dedos que se entrelaçavam
Noutras mãos
Que não as suas.
Mãos que nada moviam
Que deixavam as estrelas cair
E os planetas ruir.
Sentia que o futuro
Já não podia mudar
Que o passado fora tudo
Era mera casca,
Cega e vã,
Num presente perdido
No sinuoso abismo
Das suas próprias mãos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre Ti.

Ri
Muito Alto.
Sorri
Mostra-me o último molar
Que rompeu na infância perdida.
Olha-me.
Quero encontrar
Escondida nos meandros negros
De teus olhos Azuis
A doçura que foi tua
Que foi minha.

Sorri
Mais, e mais.
Mostra que a felicidade
Da pureza de uma brincadeira
É tão verdadeira
Como Tu
Que me olhas,
Sem doçura,
pois o sal de teus olhos imensos
Faz as lágrimas correrem
e fugazmente
Caírem no teu peito
Que me ampara.

Mas não te Rias.

Vagueia.

Passam os dias
Vejo as horas que se perdem
Como indigente
Percorro-as, perdendo-me
Nos dias encontrados
Se já perdida me encontro
O sentido nada faz.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ode ao Estudante de Coimbra .

Brada a Cabra
No alto da torre triunfante
Banhada pela manhã
Sombra éburnea
Que ascende aos céus imponente
Vigiando a agitação
Da arraia Coimbrã.

Faz os negros morcegos
Levantar voo agitado
Contra a corrida efémera
Dos primeiros raios de sol
Na plenitude ciânica do horizonte
Procurando o seu poiso
Na casa da Sophia eterna.

Convictos de um futuro
Entre livros e pesadas pastas
E gloriosos feitos.

NÃO!

Anseiam Maio,
ardentemente.
A sua semana, a sua perdição
Vivem entre ruas e vielas
Da sinuosa Baixinha
Mergulhados na droga do povo
Afogando anos perdidos
Da vida boémia
Que os acolheu.

E a sabedoria?
A glória estudantina!
A que Diabo se vendeu?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tuesdays with Morrie

" Neste dia, Morrie diz que tem um exercício para experimentarmos. É para estarmos em pé, de costas para os nossos colegas, e cairmos para trás, confiando que o outro aluno nos apanhe. a maioria de nós está pouco à vontade com isto, e não nos conseguimos largar mais do que uns centímetros antes de nos endireitarmos. Rimos embaraçados.
Finalmente, uma aluna, magra, sossegada, de cabelos escuros que, segundo reparo, anda sempre de camisolas de pescador muito largas, cruza os braços no peito, fecha os olhos, inclina-se para trás e não hesita, como num desses anúncios do Chá Lipton, em que a modelo se atira à piscina.Por um segundo, tenho a certeza de que ela vai estatelar-se no chão. No último instante, o seu parceiro designado agarra-lhe a cabeça e os ombros e segura-a com força.
- Ehh láá! - muitos alunos gritam. Alguns aplaudem.
Morrie finalmente sorri.
- Estão a ver, - diz ele à rapariga - tu fechaste os olhos. Foi essa a diferença. Às vezes não se pode acreditar no que se vê, tem que se acreditar no que se sente. E, se alguma vez as outras pessoas confiarem em nós, temos de sentir que também podemos confiar nelas - mesmo no
escuro.
Mesmo quando se está a cair. "
Mitch Albom

Boca de Cena.

Um acto.
Liberta a dor
do pensamento dilacerante
O peso que transporto
Na alma carregada de mágoa
Flutua.
Entre as estrelas
as milhões de estrelas
E a alma minha
Perde-se na noite vaga
Voando para longe.

Prostrada
Fica a carapaça velha e ferida
Os vestígios do que foste
E do que serias, nela
Vazia,
De olhos presos
Na janela indiscreta
Na lua discreta
Gemendo baixinho
Os segredos que descobria
Que Ele lhe dizia.

Não sei mais
Verdades e mentiras
Gritos de dor e de prazer.
Tudo na intimidade da noite
É uno
É leveza.
É o olhar vazio
Numa discrição indecifrável
De sombras vãs
Que lhe escondem a alma
Nos segredos sujos
Que as estrelas guardam
Que lhe bradaram aos ouvidos
Baixinho,
No acto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Caixinha de Música

Murmuras palavras doces
Notas ecoam na minha cabeça
És tu que cantas
Tu que entoas
Um sem número de canções
Que me inundam a alma
E transbordam na vista
Que ardem no peito
E me aquecem o ventre.

Canta
Tua voz dilacerante
Corta
Todas as veias que circulam
Todas as artérias que afluem
Espalhando o sangue na rua,
Procuro-me nalguma gota

Que de mim de esvaiu
Onde estás?
Onde estou chorando?
Estou onde estou rindo!

És Tu sineiro
És Tu
Encharca-me com teu esforço
Faz o carrilhão dobrar
Pois encantada
Não ficarei, jamais.

Não param as palavras
os tons e as cores
Modelas-te no pensamento vazio
Recrias um mundo outrora perdido
Saltas da janela e flutuas.
Refaz-te em mim!
Surge de mim!

E a bailarina continua a dançar.
Talvez o melhor
Seja fechar a caixa.

domingo, 29 de agosto de 2010

Crónica da Bolacha Americana

A praia remete constantemente para férias. Este conceito transporta rapidamente qualquer individuo para um momento intocável da sua imaginação. O momento pelo qual anseia dia após dia, trabalho após trabalho, stress após aflição! Nas férias é suposto imperar o ideal "Dolce Fare Niente", que não passa de uma frase inventada para um qualquer cartaz de publicidade enganosa, que se erga junto de uma correnteza de escritórios, numa atarefada grande cidade. Este "italianismo" leva automaticamente o bom vivante a desejar nada fazer, com um prazeroso sentido gastronómico, posto em voga devido ao aspecto sinestético que abraça o termo "Dolce"! Daí que os bons garfos sejam os primeiros a procurar novos destinos balneares, onde existam os melhores restaurantes, casas de pasto ou tasquinhas típicas. Deste modo, o turista pode levar ao extremo o resto da ideia que a expressão transmite; "Fare Niente". Assim, evita fazer compras, esperar nas intermináveis filas, desempacotar os sacos, arrumar tudo e cozinhar, uma vez que a doçura da inércia se instala e se encuba no esperado calor. É, então, esta a perfeita expressão, a imagem do verenante incauto que procura um cantinho sossegado, entre chapéus de sol, toalhas de praia, baldes e pás, tapa-ventos, radiofonias, crianças aos gritos, velhinhas enrugadas em topless, cães sarnentos, tupperwares de feijoada de búzios, canos de saneamento entupidos, jogatanas de raquetes entre oito competitivos pares, e algas secas desde 1919, para poisar a sua cadeirinha e relaxar, embalado pelo som do mar e do ressonar do vizinho do lado. Convém nunca esquecer as horas de regressar, e as longas três horas entre o engarrafamento sazonal, com o ar condicionado desligado para ajudar o ambiente e a carteira.
Como passam depressa as férias...

sábado, 28 de agosto de 2010

A Fórmula de Deus

"« Deus é um problema natural. A conversa do sobrenatural, dos milagres, da magia... tudo isso é um disparate. A existir Deus faz parte do universo. Deus é o universo. Percebe? A criação do universo não foi um acto artificial, foi um acto natural, em obediência a leis específicas e a determinadas constantes universais. Mas a questão volta sempre ao mesmo ponto. Quem foi que concebeu as leis do universo? Quem foi que determinou as constantes universais? Quem foi que deu o sopro de vida ao universo?» [...] «A criação remete para um Criador.» "
José Rodrigues dos Santos

Desabafa .

Precisas de falar, deitar tudo para o infinito do vazio. Deixar que o tudo se misture no nada, e que numa massa densa de interrogações e saudades se evapore.
Precisas de arrancar. Arrancar. Arrrrrrrrrrancar. Sem pena, sem penar, sem pensar no que foi e sem imaginar como poderia ter sido. Porque, de facto, Hoje, é Nada. O Tudo talvez nunca o tenha sido, pois se Tudo fosse Nada não esmoreceria, não se misturaria, saindo a flutuar pela janela, na densa massa cinzenta, com éburneos contornos das horas perdidas e achadas.
Precisas de GRITAR, bem Alto, que Acabou. Que não volta mais, que a esperança é uma mentira barata. É uma palavra vã criada nalgum país de terceiro mundo ou numa qualquer época crítica da História do mundo. É uma palavra sem sentido no Amor.
Precisas de parar de pensar no movimento de rotação que Ele faz em torno de si mesmo e na translação mimética que teimas em fazer em torno de lembranças manchadas pelas mil milhões de lágrimas que já correram do teu rosto. Lágrimas essas que não Lhe chegaram, que não Lhe interessam sequer; pois a água que Ele procura para matar a sua sede é outra. Não é a água da verdadeira paixão e da entrega total. É a água choca que escorre dos corpos suados, que se abraçam num beijo sem sentido. Num beijo vazio, sem Ti.
Precisas que as lágrimas sequem de uma vez. Que a fonte natural que brota do teu coração se evapore, se desfaça, jazendo apenas uma estrutura oca de pedra. A pedra da mágoa que foi crescendo com todo o teu jeito malvado, o jeito que não é teu. De um alguém tão diferente, tão mudado pelos vícios do mundo, dos seus vícios.
Precisas que Ele vá. Que aquele que conheceste outrora parta, para não mais voltar, pois que ficou não é Ele. E quem ficou não te quer lá, de maneira alguma. Ele não existe mais. Pára de O evocar em vão!
Precisas de olhar para ti, na vida e no mundo que continua a girar, "constantemente dão-se coisas novas, e uma história de amor não é tão importante assim que não possa cair no esquecimento", pois um dia "nem buraco será; onde nem sequer se poderá cair". Não queiras cair, não te atires. Agarra-te firme às margens que te
viram outrora correr feliz. (quando achavas conhecer a Felicidade e o seu verdadeiro significado)

Precisas de Paz.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ode ao Mar Lusitano .

A onda que bate na rocha
Filha do mar revolto
Não sabe onde nasceu
Mas a espuma branca
Que anuncia a sua morte
Não tarda a sumir
E da onda que quebrou
Toda a rocha a esqueceu

O mar revolto
Pai de todas as ondas
Brada, chora, enlouquece
Mas filhas suas
Encontram sempre destino
Enlaçado com o seu Fim
Embatem e se desmancham
E sua efémera existência perece.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Amor é Fodido

"Amo-te tanto". Sempre essa palavra - tanto. E a pergunta ao outro, a quem parecia tão pouco: Mas quanto?
Miguel Esteves Cardoso

Esquizofrenia .

A vida não pára, e, com toda a certeza, não espera.
Hoje é somente mais um dia depois de ontem e antes de amanhã. Tão iguais, tão indiferentes. Hoje ri-me das mesmas coisas, que ontem desprezei e amanhã já terei esquecido. Porque a vida não pára, não espera.
O tempo comanda. O compassado tique-taque dos relógios invisíveis, coordena cada passo, cada olhar, cada suspiro. Espontaneidade é, pois, uma palavra oca, sem qualquer sentido. Nem tão pouco qualquer surpresa. Essa talvez já tenha caído no esquecimento, ou, até, nunca tenha existido. Não me lembro de surpresa alguma realmente. Dar aos outros, sempre aos outros. Esqueço que prezo imensamente o Eu.
Talvez seja mais egoísta achando não o ser, achando dar de mim aos demais, mesmo nem sempre dando o melhor de mim. Considero-me modelo, condição. Mais que egoísmo, é pois a vaidade confrontada com a baixa auto-estima, culminando numa monstruosa falsa confiança. Quebro, pois, limites humanos e sociais, acabando sempre por encontrar possiveís soluções nos outros, mas aproximando-me sempre da verdadeira resposta em mim mesma.
O que é a Amizade, afinal?

Espaço .

Entre linhas
De um destino que fui traçando
O Vazio cresce
Como a tinta derramada
O Vazio mancha
Cobre o esboço a carvão
Que procurei fazer
Onde procurei encontrar-te.

A pouco e pouco
Marcas do que serias em mim
Deixaram o espaço
E tornaram-se nada
E o nada,
o nada é Vazio.

Será frio?
Nada seria frio
se ainda premanecesse
Nas borras de tinta
Que pintaram o que serias
Serias calor, pois Tu
Tu serias Tudo
Um tudo tão diferente
Pleno

Colorido

E o nada é de que cor?
Nenhuma?
Cor alguma?
A cor nada interessa
Quando a mancha é Vazio
Quando o esboço se dissipa
E tu desapareces
Entre as linhas de um vazio
Com pedaços de destino
Nos meandros da sua composição.

Carta .

Hoje escrevo para Ti.
Após meses de intensas reflexões, de muitas lágrimas, de imensos mergulhos em mágicas recordações, de um olhar para lá de nós, é para Ti que hoje escrevo.
Não é todos os dias que encontramos na nossa vida pessoas como aquela que Tu eras para mim. Eras tudo.
Foste como um Sol, quente e reconfortante, que surge por de trás das nuvens depois da assombrosa tempestade. E foi na minha inocência que atravessei uma temível loucura de ventos e chuva, que me abalou, que me deixou ir bem ao fundo, mas, e graças a Ti, meu Sol, não me afogou.
Foste o Sol que me aqueceu, foste o barco que me levou para terra firme, foste o meu porto seguro. O Teu ser foi realmente importante para me recompor, de tal forma que me tornou uma outra pessoa; uma pessoa mais forte, mais segura, diferente. Talvez mais feliz.
Quando recuperei todos os sentidos (e descobri outros mais) foi nas tuas mãos, nos teus lábios, nos teus olhos que me moldei. Fiz-me uma pessoa bonita. Sentia-me leve na minha condição de amante, pois, na relação, que tão perfeitamente íamos construindo, eu não tinha qualquer preocupação, qualquer responsabilidade. Limitávamo-nos a viver um dia de cada vez, sem notar o passar das horas, o murmúrio das vozes. Como tenho saudades dessa despreocupação desmedida. Passávamos horas, nos nossos modestos esconderijos, entregues aos braços, aos beijos, aos toques. Todas as palavras eram personificadas, o silêncio fazia-nos penetrar na imensidão das nossas almas, que, em certos momentos, deixavam de nos pertencer para se unirem numa só; mais brilhante que a nossa própria felicidade.
Não importava o lugar quando estava contigo. Quer fluíssemos entre ondas do mar, entre peixinhos de rio, entre estrelas da noite, entre suaves lençóis, não importava nada mais, a não ser nós.
E era com as Tuas modestas declarações de sentimentos que eu me ia envolvendo, era nelas que eu pensava, para me reconfortar. Reconfortar?! Quase não precisava! A perfeição da minha vida levava-me a nunca baixar os braços, a nunca pensar nas coisas menos boas. Fazia-me, simplesmente, desejar mais e mais de Ti, meu Sol. Pois eras Tu, que tornavas tudo tão equilibrado; tão certo. Assim, além da nossa relação, construí também um mundinho, só meu. Nesse mundo, agora tão perdido; tão longe, nada nem ninguém me magoava. Sentia-me no topo da montanha mais alta, no altar mais sagrado. A tua figura era constante nesse meu espaço. Como um fantasma, deambulavas por mim e davas-me o maior de todos os motivos para sorrir.
Hoje recordo conversas. Assuntos disparatados, conversas sérias, piadas, provocações deliciosas, perguntas constrangedoras, canções, segredos. Nunca faltavam entre nós as palavras. Até mesmo nos momentos mais delicados, mais assustadores, sorriamos e estas deslizavam das nossas bocas sem que déssemos conta. E, mesmo quando a distância era mais forte, não hesitávamos em escrever mensagens, ainda que singelas, tão cheias de nós próprios, que quebravam a temível barreira física que nos separava.
Foi contigo, meu Sol, que vivi momentos plenos, os primeiros da nossa existência. Uma partilha de emoções complexa, que nos uniu magicamente, na dita plenitude dos nossos seres. Foi, talvez, num simples momento, que eu descobri que eras Tu, meu Sol, aquele verdadeiro Amor. Perdi assim o medo de sentimentos verdadeiros, e nunca antes as palavras: “Eu amo-te” tiveram um significado tão verdadeiro.
Não pensava no fim, pois tal conto de fadas parecia-me infinitamente perfeito. NADA estava errado. NADA adivinhava o hediondo futuro que estávamos destinados a ter. NADA me fez crer que os sentimentos haviam mudado.
Mas, Acabou. Sem dar conta. O mundinho meu ruiu; num assombroso escombro sem fantasmas, sem espíritos, sem almas. O equilíbrio, o perfeito balanço, deixou simplesmente de existir. As minhas palavras ecoavam num vazio, num silêncio incómodo. Não havia mais toques, mais sorrisos, mais segredos, mais lugares mágicos e bonitos. No Teu lugar, existia somente uma negra sombra do que havias sido em mim.
Fiquei perdida em perguntas, às quais evitavas responder. Fiquei sozinha num outro espaço, do qual tu fugias fugazmente. Fiquei sem saber o que fazer.
Ainda hoje me perco em perguntas e em memórias. Começo a descobrir que é possível viver sem ti. Ainda que a dor continue a incendiar o meu ser, ainda que a Saudade me queira afogar, EU não o permito. Só, magoada, ferida, madura, já nada inocente, revoltada, aprendo todos os dias a lidar com os dias de chuva. Pois na minha vida a tormenta já se instalou novamente. E desta vez, não haverá um novo sol para me dar as esperanças de um futuro solarengo. Ás margens me vou apoiando. E longe de Ti, meu Sol, descubro como são as noites tenebrosas, as tempestades e as nuvens cinzentas. Sei que não voltarás, mas a esperança que me ensinaste a ter, que deixaste em mim, não sei se, mesmo com toda a chuva, se apagará. Talvez um dia, num outro futuro, num outro mundo.
Porque em dias mais doentios e cinzentos, ainda te espero, a Ti, meu Sol, entre os escombros, na solidão da tua sombra, mergulhada, mas não afogada, nas recordações do que um dia fomos nós; o Céu.
Hoje escrevo para ti.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Nesnesitelná Lehkost Bytí

"Com metáforas não se brinca.
O amor pode nascer de uma única metáfora"
Milan Kundera
Tomas, serei eu a Tereza?

sábado, 21 de agosto de 2010

Chronophobia .

Temo as horas que passam. Também os minutos, e, até mesmo, os ínfimos segundos, que parecem nem existir de tão despercebidos que passam, nem parecendo as águias de longas asas que realmente o são. Temo os ponteiros dos relógios.
Dias sucedem dias, tão iguais a dias, que não passam de dias, mas, que no fundo, recheiam o calendário, e, no final, parecem nunca ser suficientes para a atribulada existência.
Temo as estações do ano; especialmente o Verão! O ar gélido percorre-me as veias e o bafo quente escorre pelos meus poros. Um antagonismo que procura equilíbrio entre tapetes de folhas secas e carpetes de flores perfumadas, porém, em tempo algum esse equilíbrio me encontrará.
Temo o Tempo. Que fluí, que passa, que te trouxe e levou num bater de asas, e que, por mais corra, por mais tempo que passe, não te trará jamais.



Quem tem medo, compra um cão!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dentro de Ti, inquieta.

Só.
Nunca um vazio
uma escuridão cerrada
uma gaiola fechada
Nunca.
Hoje tudo parece certo
Neste momento tão errado
Hoje, os ponteiros do relógio
Continuam a girar
Quando o tempo
Há muito devia ter parado
Os ponteiros caminham
E das horas surgiram dias
E dos dias surgiu vazio.

Apagaram-se as velas mortiças
Num adro Azul.

Cortaram-me as asas
E a gaiola
Pareceu o único lugar acolhedor
Pois já nem o brilhante Azul do céu
Reflectia em Mim esse valor.
Hoje já não sei Ser
Outrora, perdi-me,
mas na força do tempo,
dos meus braços e
de tantos mais abraços
Encontrei a saída
Encontrei-me a Mim

Hoje,
Já me acomodei na gaiola
Porque o caminho esmoreceu
E o labirinto
Não é mais labirinto
Pois não estou perdida
Estou encontrada em Ti,
faculdade fantástica
Que inocentemente me deste
Quando me encontraste a Mim

Hoje.
Não me posso encontrar
Sei exactamente onde estou
Presa na escuridão
Que dentro de ti criaste
Ainda vivo,
permaneço na gaiola inquieta
Procuro, sim, a luz
Procuro a tua mão
Vem, com as asas que te dei
Cura as minhas
Vamos voar os dois
Mostra-me que ainda
Posso ser o que Sou.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Afasia .

Não sei mais escrever palavras doces
Tão pouco salgadas serão
Ansiava não ter que pronunciar palavra alguma
Nem sequer pensar.
Sonhos esvanecem e dissipam
Na angústia da língua
Que não sabe mais falar
Sabores que foram mais que sabores
Foram cores,
foram aromas
Foste Tu.

Mas eu não mais sei onde estás.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma expedição pela estranha condição Humana.

Um grito
Nuns meros décibeis
Fica pois reduzida
toda a magnificiência
e,
simultaneamente,
toda a insignificância de um ser.
"Humano."
- disseram alguns -
Com sentimentos
sensações e emoções
"Diferente de qualquer animal!"
Não, por isto não..
Diz-se ser racional!
Mede cada acto
Calcula cada consequência sua.
Foge ou Assume
Utiliza a caixa pensante
Uns meros gramas de gelatina cinzenta,
de arroz cerebral.
Faz tudo girar
cada acto dar a dita consequência.
"E o coração?!"
Ah! Esse...
É o condimento ideal.
Com toda a sua força
Obriga a caixinha mágica.
Fá-la mexer e remoer
E, segundo entendidos,
Guarda nele
Tudo o que de bom
pertence ao Homem,
e é por este conquistado!
É pois
Uma bomba relógio
Um tanto quanto sentimental
Que faz o ser
Girar torno de si
e em torno do próximo.
DO PRÓXIMO?!
NÃO!!
Cada movimento
bem calculado
Roda sobre aquilo que o estimula:
O ser.
O insignificante e
magnificiente ser.
Que só se vê a si
Que só conhece um reflexo
Um bater
Um cheiro.
Resume-se assim
uma viagem
tão longa, mas tão curta.
Pois o ser
já não passa disso.

As Almas?!
Essas são meras Lendas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Antropofagia .

Canibaliza.
Mataste-a qual caçador triunfante
De arrasto a levaste.
Agora,
Separa-lhe a pele dos ossos
Rasga as entranhas
Desfaz cada riso, cada abraço.
Queima o beijo que te deu
E do negro carvão
Que ficou perdido nas cinzas da paixão
Assa-lhe a Alma
No Inferno da tua fogueira acessa
Tempera com a mesquinhez malvada
Devora-lhe sem piedade o que ficou
Cada gesto, cada olhar
O sentimento que lhe não deste.
Canibaliza.

sábado, 14 de agosto de 2010

Upgrade.

Aos poucos, a vida começa a fazer sentido. Conhecemos a fundo pessoas, lugares, ocasiões. Identificamos todo um lado bom e, em contraste, fazemos por omitir qualquer lado mau que se imponha entre a realidade e a nossa primeira impressão.E é, infelizmente, de primeiras impressões, olhares vagos e fugazes, de palavras soltas, que fazemos e definimos a nossa própria noção de mundo utópico. É com meros murmúrios que escrevemos toda uma composição musical. É com relances que identificamos todas as cores de um arco-íris branco.É na própria efemeridade dos dias, das horas e dos segundos que encontramos para tudo um início e, consequentemente, um fim. Nem sempre feliz.

Será o sentido de tudo simplesmente ridículo?