terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tuesdays with Morrie

" Neste dia, Morrie diz que tem um exercício para experimentarmos. É para estarmos em pé, de costas para os nossos colegas, e cairmos para trás, confiando que o outro aluno nos apanhe. a maioria de nós está pouco à vontade com isto, e não nos conseguimos largar mais do que uns centímetros antes de nos endireitarmos. Rimos embaraçados.
Finalmente, uma aluna, magra, sossegada, de cabelos escuros que, segundo reparo, anda sempre de camisolas de pescador muito largas, cruza os braços no peito, fecha os olhos, inclina-se para trás e não hesita, como num desses anúncios do Chá Lipton, em que a modelo se atira à piscina.Por um segundo, tenho a certeza de que ela vai estatelar-se no chão. No último instante, o seu parceiro designado agarra-lhe a cabeça e os ombros e segura-a com força.
- Ehh láá! - muitos alunos gritam. Alguns aplaudem.
Morrie finalmente sorri.
- Estão a ver, - diz ele à rapariga - tu fechaste os olhos. Foi essa a diferença. Às vezes não se pode acreditar no que se vê, tem que se acreditar no que se sente. E, se alguma vez as outras pessoas confiarem em nós, temos de sentir que também podemos confiar nelas - mesmo no
escuro.
Mesmo quando se está a cair. "
Mitch Albom

Boca de Cena.

Um acto.
Liberta a dor
do pensamento dilacerante
O peso que transporto
Na alma carregada de mágoa
Flutua.
Entre as estrelas
as milhões de estrelas
E a alma minha
Perde-se na noite vaga
Voando para longe.

Prostrada
Fica a carapaça velha e ferida
Os vestígios do que foste
E do que serias, nela
Vazia,
De olhos presos
Na janela indiscreta
Na lua discreta
Gemendo baixinho
Os segredos que descobria
Que Ele lhe dizia.

Não sei mais
Verdades e mentiras
Gritos de dor e de prazer.
Tudo na intimidade da noite
É uno
É leveza.
É o olhar vazio
Numa discrição indecifrável
De sombras vãs
Que lhe escondem a alma
Nos segredos sujos
Que as estrelas guardam
Que lhe bradaram aos ouvidos
Baixinho,
No acto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Caixinha de Música

Murmuras palavras doces
Notas ecoam na minha cabeça
És tu que cantas
Tu que entoas
Um sem número de canções
Que me inundam a alma
E transbordam na vista
Que ardem no peito
E me aquecem o ventre.

Canta
Tua voz dilacerante
Corta
Todas as veias que circulam
Todas as artérias que afluem
Espalhando o sangue na rua,
Procuro-me nalguma gota

Que de mim de esvaiu
Onde estás?
Onde estou chorando?
Estou onde estou rindo!

És Tu sineiro
És Tu
Encharca-me com teu esforço
Faz o carrilhão dobrar
Pois encantada
Não ficarei, jamais.

Não param as palavras
os tons e as cores
Modelas-te no pensamento vazio
Recrias um mundo outrora perdido
Saltas da janela e flutuas.
Refaz-te em mim!
Surge de mim!

E a bailarina continua a dançar.
Talvez o melhor
Seja fechar a caixa.

domingo, 29 de agosto de 2010

Crónica da Bolacha Americana

A praia remete constantemente para férias. Este conceito transporta rapidamente qualquer individuo para um momento intocável da sua imaginação. O momento pelo qual anseia dia após dia, trabalho após trabalho, stress após aflição! Nas férias é suposto imperar o ideal "Dolce Fare Niente", que não passa de uma frase inventada para um qualquer cartaz de publicidade enganosa, que se erga junto de uma correnteza de escritórios, numa atarefada grande cidade. Este "italianismo" leva automaticamente o bom vivante a desejar nada fazer, com um prazeroso sentido gastronómico, posto em voga devido ao aspecto sinestético que abraça o termo "Dolce"! Daí que os bons garfos sejam os primeiros a procurar novos destinos balneares, onde existam os melhores restaurantes, casas de pasto ou tasquinhas típicas. Deste modo, o turista pode levar ao extremo o resto da ideia que a expressão transmite; "Fare Niente". Assim, evita fazer compras, esperar nas intermináveis filas, desempacotar os sacos, arrumar tudo e cozinhar, uma vez que a doçura da inércia se instala e se encuba no esperado calor. É, então, esta a perfeita expressão, a imagem do verenante incauto que procura um cantinho sossegado, entre chapéus de sol, toalhas de praia, baldes e pás, tapa-ventos, radiofonias, crianças aos gritos, velhinhas enrugadas em topless, cães sarnentos, tupperwares de feijoada de búzios, canos de saneamento entupidos, jogatanas de raquetes entre oito competitivos pares, e algas secas desde 1919, para poisar a sua cadeirinha e relaxar, embalado pelo som do mar e do ressonar do vizinho do lado. Convém nunca esquecer as horas de regressar, e as longas três horas entre o engarrafamento sazonal, com o ar condicionado desligado para ajudar o ambiente e a carteira.
Como passam depressa as férias...

sábado, 28 de agosto de 2010

A Fórmula de Deus

"« Deus é um problema natural. A conversa do sobrenatural, dos milagres, da magia... tudo isso é um disparate. A existir Deus faz parte do universo. Deus é o universo. Percebe? A criação do universo não foi um acto artificial, foi um acto natural, em obediência a leis específicas e a determinadas constantes universais. Mas a questão volta sempre ao mesmo ponto. Quem foi que concebeu as leis do universo? Quem foi que determinou as constantes universais? Quem foi que deu o sopro de vida ao universo?» [...] «A criação remete para um Criador.» "
José Rodrigues dos Santos

Desabafa .

Precisas de falar, deitar tudo para o infinito do vazio. Deixar que o tudo se misture no nada, e que numa massa densa de interrogações e saudades se evapore.
Precisas de arrancar. Arrancar. Arrrrrrrrrrancar. Sem pena, sem penar, sem pensar no que foi e sem imaginar como poderia ter sido. Porque, de facto, Hoje, é Nada. O Tudo talvez nunca o tenha sido, pois se Tudo fosse Nada não esmoreceria, não se misturaria, saindo a flutuar pela janela, na densa massa cinzenta, com éburneos contornos das horas perdidas e achadas.
Precisas de GRITAR, bem Alto, que Acabou. Que não volta mais, que a esperança é uma mentira barata. É uma palavra vã criada nalgum país de terceiro mundo ou numa qualquer época crítica da História do mundo. É uma palavra sem sentido no Amor.
Precisas de parar de pensar no movimento de rotação que Ele faz em torno de si mesmo e na translação mimética que teimas em fazer em torno de lembranças manchadas pelas mil milhões de lágrimas que já correram do teu rosto. Lágrimas essas que não Lhe chegaram, que não Lhe interessam sequer; pois a água que Ele procura para matar a sua sede é outra. Não é a água da verdadeira paixão e da entrega total. É a água choca que escorre dos corpos suados, que se abraçam num beijo sem sentido. Num beijo vazio, sem Ti.
Precisas que as lágrimas sequem de uma vez. Que a fonte natural que brota do teu coração se evapore, se desfaça, jazendo apenas uma estrutura oca de pedra. A pedra da mágoa que foi crescendo com todo o teu jeito malvado, o jeito que não é teu. De um alguém tão diferente, tão mudado pelos vícios do mundo, dos seus vícios.
Precisas que Ele vá. Que aquele que conheceste outrora parta, para não mais voltar, pois que ficou não é Ele. E quem ficou não te quer lá, de maneira alguma. Ele não existe mais. Pára de O evocar em vão!
Precisas de olhar para ti, na vida e no mundo que continua a girar, "constantemente dão-se coisas novas, e uma história de amor não é tão importante assim que não possa cair no esquecimento", pois um dia "nem buraco será; onde nem sequer se poderá cair". Não queiras cair, não te atires. Agarra-te firme às margens que te
viram outrora correr feliz. (quando achavas conhecer a Felicidade e o seu verdadeiro significado)

Precisas de Paz.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ode ao Mar Lusitano .

A onda que bate na rocha
Filha do mar revolto
Não sabe onde nasceu
Mas a espuma branca
Que anuncia a sua morte
Não tarda a sumir
E da onda que quebrou
Toda a rocha a esqueceu

O mar revolto
Pai de todas as ondas
Brada, chora, enlouquece
Mas filhas suas
Encontram sempre destino
Enlaçado com o seu Fim
Embatem e se desmancham
E sua efémera existência perece.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Amor é Fodido

"Amo-te tanto". Sempre essa palavra - tanto. E a pergunta ao outro, a quem parecia tão pouco: Mas quanto?
Miguel Esteves Cardoso

Esquizofrenia .

A vida não pára, e, com toda a certeza, não espera.
Hoje é somente mais um dia depois de ontem e antes de amanhã. Tão iguais, tão indiferentes. Hoje ri-me das mesmas coisas, que ontem desprezei e amanhã já terei esquecido. Porque a vida não pára, não espera.
O tempo comanda. O compassado tique-taque dos relógios invisíveis, coordena cada passo, cada olhar, cada suspiro. Espontaneidade é, pois, uma palavra oca, sem qualquer sentido. Nem tão pouco qualquer surpresa. Essa talvez já tenha caído no esquecimento, ou, até, nunca tenha existido. Não me lembro de surpresa alguma realmente. Dar aos outros, sempre aos outros. Esqueço que prezo imensamente o Eu.
Talvez seja mais egoísta achando não o ser, achando dar de mim aos demais, mesmo nem sempre dando o melhor de mim. Considero-me modelo, condição. Mais que egoísmo, é pois a vaidade confrontada com a baixa auto-estima, culminando numa monstruosa falsa confiança. Quebro, pois, limites humanos e sociais, acabando sempre por encontrar possiveís soluções nos outros, mas aproximando-me sempre da verdadeira resposta em mim mesma.
O que é a Amizade, afinal?

Espaço .

Entre linhas
De um destino que fui traçando
O Vazio cresce
Como a tinta derramada
O Vazio mancha
Cobre o esboço a carvão
Que procurei fazer
Onde procurei encontrar-te.

A pouco e pouco
Marcas do que serias em mim
Deixaram o espaço
E tornaram-se nada
E o nada,
o nada é Vazio.

Será frio?
Nada seria frio
se ainda premanecesse
Nas borras de tinta
Que pintaram o que serias
Serias calor, pois Tu
Tu serias Tudo
Um tudo tão diferente
Pleno

Colorido

E o nada é de que cor?
Nenhuma?
Cor alguma?
A cor nada interessa
Quando a mancha é Vazio
Quando o esboço se dissipa
E tu desapareces
Entre as linhas de um vazio
Com pedaços de destino
Nos meandros da sua composição.

Carta .

Hoje escrevo para Ti.
Após meses de intensas reflexões, de muitas lágrimas, de imensos mergulhos em mágicas recordações, de um olhar para lá de nós, é para Ti que hoje escrevo.
Não é todos os dias que encontramos na nossa vida pessoas como aquela que Tu eras para mim. Eras tudo.
Foste como um Sol, quente e reconfortante, que surge por de trás das nuvens depois da assombrosa tempestade. E foi na minha inocência que atravessei uma temível loucura de ventos e chuva, que me abalou, que me deixou ir bem ao fundo, mas, e graças a Ti, meu Sol, não me afogou.
Foste o Sol que me aqueceu, foste o barco que me levou para terra firme, foste o meu porto seguro. O Teu ser foi realmente importante para me recompor, de tal forma que me tornou uma outra pessoa; uma pessoa mais forte, mais segura, diferente. Talvez mais feliz.
Quando recuperei todos os sentidos (e descobri outros mais) foi nas tuas mãos, nos teus lábios, nos teus olhos que me moldei. Fiz-me uma pessoa bonita. Sentia-me leve na minha condição de amante, pois, na relação, que tão perfeitamente íamos construindo, eu não tinha qualquer preocupação, qualquer responsabilidade. Limitávamo-nos a viver um dia de cada vez, sem notar o passar das horas, o murmúrio das vozes. Como tenho saudades dessa despreocupação desmedida. Passávamos horas, nos nossos modestos esconderijos, entregues aos braços, aos beijos, aos toques. Todas as palavras eram personificadas, o silêncio fazia-nos penetrar na imensidão das nossas almas, que, em certos momentos, deixavam de nos pertencer para se unirem numa só; mais brilhante que a nossa própria felicidade.
Não importava o lugar quando estava contigo. Quer fluíssemos entre ondas do mar, entre peixinhos de rio, entre estrelas da noite, entre suaves lençóis, não importava nada mais, a não ser nós.
E era com as Tuas modestas declarações de sentimentos que eu me ia envolvendo, era nelas que eu pensava, para me reconfortar. Reconfortar?! Quase não precisava! A perfeição da minha vida levava-me a nunca baixar os braços, a nunca pensar nas coisas menos boas. Fazia-me, simplesmente, desejar mais e mais de Ti, meu Sol. Pois eras Tu, que tornavas tudo tão equilibrado; tão certo. Assim, além da nossa relação, construí também um mundinho, só meu. Nesse mundo, agora tão perdido; tão longe, nada nem ninguém me magoava. Sentia-me no topo da montanha mais alta, no altar mais sagrado. A tua figura era constante nesse meu espaço. Como um fantasma, deambulavas por mim e davas-me o maior de todos os motivos para sorrir.
Hoje recordo conversas. Assuntos disparatados, conversas sérias, piadas, provocações deliciosas, perguntas constrangedoras, canções, segredos. Nunca faltavam entre nós as palavras. Até mesmo nos momentos mais delicados, mais assustadores, sorriamos e estas deslizavam das nossas bocas sem que déssemos conta. E, mesmo quando a distância era mais forte, não hesitávamos em escrever mensagens, ainda que singelas, tão cheias de nós próprios, que quebravam a temível barreira física que nos separava.
Foi contigo, meu Sol, que vivi momentos plenos, os primeiros da nossa existência. Uma partilha de emoções complexa, que nos uniu magicamente, na dita plenitude dos nossos seres. Foi, talvez, num simples momento, que eu descobri que eras Tu, meu Sol, aquele verdadeiro Amor. Perdi assim o medo de sentimentos verdadeiros, e nunca antes as palavras: “Eu amo-te” tiveram um significado tão verdadeiro.
Não pensava no fim, pois tal conto de fadas parecia-me infinitamente perfeito. NADA estava errado. NADA adivinhava o hediondo futuro que estávamos destinados a ter. NADA me fez crer que os sentimentos haviam mudado.
Mas, Acabou. Sem dar conta. O mundinho meu ruiu; num assombroso escombro sem fantasmas, sem espíritos, sem almas. O equilíbrio, o perfeito balanço, deixou simplesmente de existir. As minhas palavras ecoavam num vazio, num silêncio incómodo. Não havia mais toques, mais sorrisos, mais segredos, mais lugares mágicos e bonitos. No Teu lugar, existia somente uma negra sombra do que havias sido em mim.
Fiquei perdida em perguntas, às quais evitavas responder. Fiquei sozinha num outro espaço, do qual tu fugias fugazmente. Fiquei sem saber o que fazer.
Ainda hoje me perco em perguntas e em memórias. Começo a descobrir que é possível viver sem ti. Ainda que a dor continue a incendiar o meu ser, ainda que a Saudade me queira afogar, EU não o permito. Só, magoada, ferida, madura, já nada inocente, revoltada, aprendo todos os dias a lidar com os dias de chuva. Pois na minha vida a tormenta já se instalou novamente. E desta vez, não haverá um novo sol para me dar as esperanças de um futuro solarengo. Ás margens me vou apoiando. E longe de Ti, meu Sol, descubro como são as noites tenebrosas, as tempestades e as nuvens cinzentas. Sei que não voltarás, mas a esperança que me ensinaste a ter, que deixaste em mim, não sei se, mesmo com toda a chuva, se apagará. Talvez um dia, num outro futuro, num outro mundo.
Porque em dias mais doentios e cinzentos, ainda te espero, a Ti, meu Sol, entre os escombros, na solidão da tua sombra, mergulhada, mas não afogada, nas recordações do que um dia fomos nós; o Céu.
Hoje escrevo para ti.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Nesnesitelná Lehkost Bytí

"Com metáforas não se brinca.
O amor pode nascer de uma única metáfora"
Milan Kundera
Tomas, serei eu a Tereza?

sábado, 21 de agosto de 2010

Chronophobia .

Temo as horas que passam. Também os minutos, e, até mesmo, os ínfimos segundos, que parecem nem existir de tão despercebidos que passam, nem parecendo as águias de longas asas que realmente o são. Temo os ponteiros dos relógios.
Dias sucedem dias, tão iguais a dias, que não passam de dias, mas, que no fundo, recheiam o calendário, e, no final, parecem nunca ser suficientes para a atribulada existência.
Temo as estações do ano; especialmente o Verão! O ar gélido percorre-me as veias e o bafo quente escorre pelos meus poros. Um antagonismo que procura equilíbrio entre tapetes de folhas secas e carpetes de flores perfumadas, porém, em tempo algum esse equilíbrio me encontrará.
Temo o Tempo. Que fluí, que passa, que te trouxe e levou num bater de asas, e que, por mais corra, por mais tempo que passe, não te trará jamais.



Quem tem medo, compra um cão!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dentro de Ti, inquieta.

Só.
Nunca um vazio
uma escuridão cerrada
uma gaiola fechada
Nunca.
Hoje tudo parece certo
Neste momento tão errado
Hoje, os ponteiros do relógio
Continuam a girar
Quando o tempo
Há muito devia ter parado
Os ponteiros caminham
E das horas surgiram dias
E dos dias surgiu vazio.

Apagaram-se as velas mortiças
Num adro Azul.

Cortaram-me as asas
E a gaiola
Pareceu o único lugar acolhedor
Pois já nem o brilhante Azul do céu
Reflectia em Mim esse valor.
Hoje já não sei Ser
Outrora, perdi-me,
mas na força do tempo,
dos meus braços e
de tantos mais abraços
Encontrei a saída
Encontrei-me a Mim

Hoje,
Já me acomodei na gaiola
Porque o caminho esmoreceu
E o labirinto
Não é mais labirinto
Pois não estou perdida
Estou encontrada em Ti,
faculdade fantástica
Que inocentemente me deste
Quando me encontraste a Mim

Hoje.
Não me posso encontrar
Sei exactamente onde estou
Presa na escuridão
Que dentro de ti criaste
Ainda vivo,
permaneço na gaiola inquieta
Procuro, sim, a luz
Procuro a tua mão
Vem, com as asas que te dei
Cura as minhas
Vamos voar os dois
Mostra-me que ainda
Posso ser o que Sou.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Afasia .

Não sei mais escrever palavras doces
Tão pouco salgadas serão
Ansiava não ter que pronunciar palavra alguma
Nem sequer pensar.
Sonhos esvanecem e dissipam
Na angústia da língua
Que não sabe mais falar
Sabores que foram mais que sabores
Foram cores,
foram aromas
Foste Tu.

Mas eu não mais sei onde estás.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma expedição pela estranha condição Humana.

Um grito
Nuns meros décibeis
Fica pois reduzida
toda a magnificiência
e,
simultaneamente,
toda a insignificância de um ser.
"Humano."
- disseram alguns -
Com sentimentos
sensações e emoções
"Diferente de qualquer animal!"
Não, por isto não..
Diz-se ser racional!
Mede cada acto
Calcula cada consequência sua.
Foge ou Assume
Utiliza a caixa pensante
Uns meros gramas de gelatina cinzenta,
de arroz cerebral.
Faz tudo girar
cada acto dar a dita consequência.
"E o coração?!"
Ah! Esse...
É o condimento ideal.
Com toda a sua força
Obriga a caixinha mágica.
Fá-la mexer e remoer
E, segundo entendidos,
Guarda nele
Tudo o que de bom
pertence ao Homem,
e é por este conquistado!
É pois
Uma bomba relógio
Um tanto quanto sentimental
Que faz o ser
Girar torno de si
e em torno do próximo.
DO PRÓXIMO?!
NÃO!!
Cada movimento
bem calculado
Roda sobre aquilo que o estimula:
O ser.
O insignificante e
magnificiente ser.
Que só se vê a si
Que só conhece um reflexo
Um bater
Um cheiro.
Resume-se assim
uma viagem
tão longa, mas tão curta.
Pois o ser
já não passa disso.

As Almas?!
Essas são meras Lendas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Antropofagia .

Canibaliza.
Mataste-a qual caçador triunfante
De arrasto a levaste.
Agora,
Separa-lhe a pele dos ossos
Rasga as entranhas
Desfaz cada riso, cada abraço.
Queima o beijo que te deu
E do negro carvão
Que ficou perdido nas cinzas da paixão
Assa-lhe a Alma
No Inferno da tua fogueira acessa
Tempera com a mesquinhez malvada
Devora-lhe sem piedade o que ficou
Cada gesto, cada olhar
O sentimento que lhe não deste.
Canibaliza.

sábado, 14 de agosto de 2010

Upgrade.

Aos poucos, a vida começa a fazer sentido. Conhecemos a fundo pessoas, lugares, ocasiões. Identificamos todo um lado bom e, em contraste, fazemos por omitir qualquer lado mau que se imponha entre a realidade e a nossa primeira impressão.E é, infelizmente, de primeiras impressões, olhares vagos e fugazes, de palavras soltas, que fazemos e definimos a nossa própria noção de mundo utópico. É com meros murmúrios que escrevemos toda uma composição musical. É com relances que identificamos todas as cores de um arco-íris branco.É na própria efemeridade dos dias, das horas e dos segundos que encontramos para tudo um início e, consequentemente, um fim. Nem sempre feliz.

Será o sentido de tudo simplesmente ridículo?