quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Autumn Waltz.

A ponta do seu pé descalço deixou de sentir o chão. Foi quando ele a apertou com mais força contra o seu peito, e se pôde misturar com o seu cheiro. As batidas que guardavam dentro de si próprios, sobrepuseram-se ao compasso marcado pela concertina.
Valsavam agora num ritmo único, inimitável, longe daquela madeira suja, cheia de pequenas pedras e de suor. O vazio virou palco, virou pista, infinito. Valsavam num tempo só, infinito. Não estavam mais rodeados de tantos outros corpos em movimento anti-horário.
Não mais sentiam o calor sufocante daquela noite de Outono.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Bogart.

Sinto o teu cheiro
Ainda ficou algum
Preso na narina esquerda
De quando me agarraste
Ao me abeirar do infinito.
Chegaste o teu peito quente
Junto à minha orelha
Que te ouviu os ruídos internos
Numa busca insana pela bomba vital.
Terias uma batendo louca
Guardando os segredos
Que eu procurava saber.
Contudo, a orelha mal a ouvia,
ainda que batesse mais rápido
por eu estar ali
a deixar o meu cheiro escondido
na tua narina esquerda.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cama.

Era quente o ar que tocava o seu pescoço. O desejo em forma de vento. Tu dormias, não sabias que o desejo se materializava na tua respiração e agora lhe beijava a nuca e os cabelos. Não conseguia adormecer, pois aquele calor era perturbador; aquele vento leve penetrava os seus pensamentos, mais ainda do que o facto de estar deitada ao teu lado. Como se todos os sentidos tivessem adormecido e todo o perpétuo movimento do mundo se centrasse na pele quente do teu pescoço. Tu ainda não sonhavas, pois se o fizesses certamente não estarias tão sossegado, tão perto daquele corpo estranho na tua cama. Os sonhos que costumavas ter não eram nada como a tua respiração. Eram mudos e quedos, difusos. Aquele arfar era o oposto, especialmente porque sabia a ânsia , a paixão. Aquela que o sono trazia, mas que escondias nos sonhos e na Realidade, por não saberes como respirar sem aquele ardor no peito, quando caminhavas sobre a terra das promessas ou pelo mundo onírico da noite. Enquanto isso, os olhos dela fixavam a escuridão, onde devia estar a porta do quarto, a saída daquela dúvida infame que a assombrava de encanto. Não queria que aquele sono começasse ou acabasse. Estava perdida no meio da tempestade tropical que a deixava quente e molhada. Não queria que Tu parasses de respirar, mas ansiava sufocar-te com o desejo que lhe queria saltar dos lábios e ficar contigo naquele para sempre, num vendaval maravilhoso de ensejo e loucura.
Foi quando te viraste para o outro lado e entraste num sonho Azul.