sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nada devemos temer excepto as palavras. Essas, fontes interruptas de maus sentidos, que escorrem falcatruas e enganos, como se da mais pura água se tratasse. As palavras não servem para nada, nem para dizer poesia, nem para ler uma notícia. Na cabeça não pensamos as palavras, não estão lá escritas, como subtítulos de um filme mudo. Na cabeça, de olhos fechados, os pensamentos são cor, são som; não são amontoados de letras ordenadas e compostas, que se alinham direitinhas para se comporem para o espectador incauto que assiste ao seu próprio cérebro em acção. Para nada servem elas. Não quero usar mais as palavras para viver; os meus olhos serão as janelas mais claras dos meus desejos, o meu nariz guiar-me-á num melindroso caminho de gentes, de aromas únicos, da Casa que cada um guarda nos poros e que se instala nas pilosidades nasais. Os meus ouvidos escutarão o silencio, esse tão cheio de ruídos e melodias, que se perdem no meio de demasiadas palavras.
A boca, essa, só servirá para os beijos. Esses são mais ricos que as palavras, que existem no pensamento, na noite e no dia; que vociferam muito mais alto que qualquer ditongo ou onomatopeia estúpida. Para mais não necessito da língua, dos dentes e do maxilar senão para os beijos que dizem, tão simplesmente, o quanto gosto de ti. Sem que palavra alguma interfira no vero sentimento que me envolve em ti.
Contigo nada temo, nem mesmo as palavras.

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