domingo, 2 de janeiro de 2011

Jantar.

Janelas negras que outrora reflectiam a luz da lareira acesa. A luz de um sorriso que levantava a mesa. Nessa mesa de sonhos, onde jaziam os restos da fome que alimentara, eu ainda permanecia, olhando a toalha de pano cru, com rosáceas bordadas em tons de Azul.
Na toalha tinha ficado a mancha do vinho que se derramou, que transbordou do copo de pé alto, de cristal. Descuido seu, dela, pois rira a bandeiras despregadas, enquanto o enchia. E dois ou três grãos de arroz também haviam ficado para trás. Esvaziamos os pratos. As ossadas, metidas num balde pesado de latão enferrujado, seriam o manjar do cão, que já não latia, que já nem casota de pedra tinha. Fora aquela a refeição, a melhor da minha vida, a última que guardo na memória. Tive várias depois dessa, mas em nenhuma outra a luz daquele sorriso brilhara mais que a lareira acesa. A lareira que, hoje, não existe mais.

Sem comentários:

Enviar um comentário