terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Eram três vezes e meia.
A primeira não correu como devia pois todas as personagens falharam o compromisso e foram chegando! Quando se lida com personagens de contos, temos que estar preparados para estas eventualidades, mas quando marcamos para as três horas e o primeiro gnomo Azul chega perto das três e um quarto para montar as luzes, nem podemos dar o benefício do quarto de hora académico.
A segunda vez já foi mais composta. Depois do grande sermão que todos ouviram todos fizeram um esforço extra para chegar à hora marcada. Tal facto não deveria ter uma conotação negativa, mas, para personagens infantis, o cumprimento das regras nunca é visto com bons olhos! Contudo, o pessoal dos adereços tinha regressado de férias na semana anterior e as malas estavam um caos. Faltava a tiara e os sapatos da princesa, e ela, claro, não aceitava nenhuma bandolete que tivesse menos de vinte diamantes e dez rubis. Não havia cogumelos mágicos, só uns enlatados e laminados, que não serviam nem para paragem de autocarro dos pequenos gnomos! E as fadas? Pobres coitadas que não tinham pós mágicos, e andavam atarantadas, de asinhas murchas, para trás e para a frente, sem saber muito bem como ajudar, pois, sem aquelas purpurinas encantadas, os seus pequenos cérebros pareciam não funcionar! Para não falar de uma infinidade de utensílios de higiene e beleza, que deveriam ter ficado no armazém, e sem eles nenhum urso ou sapo mágico iria tomar partido daquela história! Assim não se podia trabalhar, por isso todos foram mandados embora, menos o pessoal dos adereços. Esses ficaram a fazer uma listagem do material em falta, de modo a providenciarem uma solução na vez seguinte!
Na tradição oral é dito que à terceira é de vez, e todos estavam bastantes expectantes com este número tão especial. Por isso, à hora prevista todos estavam presentes! Nos bastidores todas as escovas e pentes estavam numerados e organizados por espessura da escovagem, os vestidos pendurados pela ordem das cores do arco-íris, com a jóia que lhe correspondia numa pequena caixa de cartão colorida com o número correspondente ao vestido, e todas as casas e meios de transporte se encontravam brilhantes e lustrosos, prontos para serem habitados ou meramente utilizados.
Só faltava mesmo começar! Contudo, e quando todos já estavam na sua posição, prontos a seguir em frente e a originar o mais belo conto infantil do mundo, eis que se notou uma falha; o narrador?! Todos ficaram vermelhos e roxos, alguns mantiveram-se verdes, de frustração!! Ninguém conseguiu compreender como é que, depois de tantas tentativas, a peça mais importante falhava daquela forma.
Porém, a porta gemeu, e da fresta surgiu a testa alva e um nariz bonacheirão, com uns óculozinhos verdes de massa na ponta. Era Ele, cujas bochechas avermelhadas denunciavam a vergonha por ter faltado às suas responsabilidades depois de tanto ter ralhado e tanto ter trabalhado para que o conto andasse para a frente, quando o motivo fora apenas um cafezinho.
Eram, assim, três vezes e meia...

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