domingo, 24 de abril de 2011

Como construir um Esgoto.

Quando nem o destino parece ser um conceito sólido, no qual exista um pedaço firme onde é possível lançar as mãos e ficar presa por meia dúzia de fiozinhos invisíveis, toda a terra resvala sob os meus pés. Com ela arrasta alcatrão e pó, muito pó. Diria mesmo cotão. Uma amálgama de lixo que me envolve e me sufoca, naquelas horas em que corre a brisa gelada da solidão. Estico o braço para procurar algo para me aquecer mas do entulho acumulado de meses de eternas saudades só recupero pedaços meio desfeitos de uma passagem que fizeste por mim. São pequenos estilhaços de recordações atiradas sem dó contra as paredes, contra os muros que foste construindo; aqueles muros que lutaste arduamente por manter em pé, mesmo quando me esmagavam, tornando pequenino o espaço que eu tinha para te amar. Respirar não parecia importante, pois se sustivesse o ar talvez arranjasse mais espaço, só um bocadinho mais de espaço, para aquele sentimento descabido que me latejava no peito.
Porém, a dor que me destruiu não te causou pesar algum. E dos muros fizeste casas, e dessas casas vilas e cidades. Essas que hoje crescem e se transformam sobre o pó, o lixo e a merda. Sobre mim.

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