segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fácil.

Deixo-me escorregar para dentro da banheira, agora cheia de água fria, já sem espuma. Deixo as minhas costas nuas deslizar na porcelana rachada, rasgando a pureza da carne morena que me envolve. A água fria fica então vermelha, mas continua gelada, e eu continuo a afundar-me no vazio daquela banheira transbordante.
A água já me cobre o pescoço, e o sentimento de certeza, de dever cumprido pulsava na minha garganta. Mergulhar na água doce de uma acolhedora banheira, no recanto de uma casa de banho qualquer, está certo. Tantos outros o fazem.
De olhos fechados fica mais fácil um corpo nu deixar-se cair nas profundezas. A água toca-me suavemente os lábios, e talvez seja este o momento para fechar os olhos. Não quero ver o tempo a passar à minha frente quando estiver prestes a bater no fundo da banheira. O breu total é assim, um par de olhos fechados; não faz diferença alguma.
Simplesmente deixo-me afogar mais uma vez. Afinal, quando a banheira ficar vazia, o corpo nu ainda lá estará, deitado, jazendo. Mas já não serei eu, sou apenas mais uma.

Sem comentários:

Enviar um comentário