terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aquece-me.

Corri para ti. Como tantas outras vezes. De braços bem abertos, esperando o calor que vulgarmente me envolvia. Por vezes esse calor arrepiava-me, fazia-me corar e fazia-te sorrir. Por vezes rias e eu corava mais ainda. Era bonito, tornava-nos pequeninos, como duas crianças que se arreliam depois de uma tarde de brincadeira, suados e plenos.
Quando era menina não abraçava ninguém. O calor nada me dizia. Era má. Gostava de ratos e de chuva. Nunca fui uma princesa grega, ria-me dessas moçoilas bem postas que se aqueciam no ouro e nas tintas brilhantes que as adornavam. Cresci no frio, e no frio me fiz Mulher.
Quando tu surgiste foste um fogo que me queimou de imediato. Senti a pele a rasgar, o sangue a afluir à carne crua que tocavas e espalhar-se no chão, deixando um rasto de loucura por onde passei desse dia em diante.
Ensinaste-me o calor. Contigo soube o que era o suor, quando na minha cama me achei sobre o imenso sal, que me banhava as costas nuas.
Essa dicotomia, gelo e calor unos em ti e em mim, fazia-me ansiar a tua presença, o teu toque.
Continuei a correr e, quando me lancei às chamas, caí. Não eras tu que lá estavas, e o gelo daquela pele cinzenta não me envolveu, deixando-me, simplesmente, cair.

2 comentários:

  1. Depois de uma leitura atenta do teu blogue finalmente encontrei aquilo por que procurava, um blogue com conteúdo. Desculpa-me a invasão, gostei muito, em especial deste texto!
    Daisy

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  2. Oh.. Só vi hoje o teu comentário!
    Andei a actualizar umas coisas agora! Não invades nada,pois esta é uma porta aberta. Bem-vinda!

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