segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Marcas.

Segue-lhe os passos, marcas vazias no cimento da estrada. Deserta, talvez. Não ouvira carro algum acercar-se. E já ali estava, a contar as pedras da calçada, havia um bom par de horas. Só ela passara. E com ela o múrmurio das vozes, aquelas que rogam pragas nas costas, que lhe arrepiam a nuca, húmida do suor amaldiçoado pelas tragédias da existência. As vozes ecoavam, ainda, num dialecto que lhe era desconhecido, mas ainda assim dialecto, que dialogava com as entranhas do seu inconsciente.Ele não sabia, porém, compreendia tais palavras estranhas , sabia o fogo que as envolvia.
Essas vozes; foram elas que o fizeram levantar-se e olhá-la, e perdê-la no horizonte. Elas que nada diziam, contaram-lhe os segredos do corpo nu que se afastava. Revelaram as marcas negras, que lhe pontuavam o dorso pálido, que lhe envolviam os pulsos, tão magros e cansados. Também os olhos, que passaram tão baixos, como se o chão que pisava os puxasse para si, também os olhos vermelhos, onde outrora verdes foram, vermelhos e inchados, lhe vincavam as rugas que ela não tinha, e se lhe foram denunciados pelas vozes, corrompidas e mórbidas.
Ele soube assim, sem olhos tocarem na pele nua que se arrastava por baixo da saia Azul esvoaçante. Da camisa nem a cor ficou, só os passos vazios, marcas apressadas, no cimento negro da imensidão do futuro que os aguardava.
Assim vai, segue-lhe os passos.

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