sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Desatinos.

Não sei porque ainda espero. Não tenho mais posição sentada nesta cadeira vulgar. Talvez se tentar dormir um pouco, talvez o tempo passe mais depressa se não olhar o relógio, talvez se fechar os olhos. Acho que o tempo está a passar, mas não o posso garantir, pois de olhos cerrados, ansiando o sono, não o posso verificar. Talvez devesse ver as horas. Só mais uma vez. Se ele vier e eu não estiver acordada, ele pode partir! Não posso permitir que tal aconteça, afinal, já estou com demasiadas dores de ficar nesta posição ordinária esperando que o tempo passe para ele chegar. Tenho que lhe fazer a melhor das recepções. Com muito calor, pois se ele entrar por aquela porta saberei o frio que sentiu. Pois o vidro baço, coberto de milhares de gotículas frias, não passa despercebido à lareira que arde, no canto da sala, junto do vaso partido e da estante vazia. Ele virá com a sua face lívida e os seus lábios enrugados do frio, e talvez me faça arrepiar quando se aproximar da minha pele quente. Demasiado quente, diria. Escorre, efectivamente, um fio de suor pelas minhas costas, contornando a coluna dorsal como um pincel deslizando sobre a tela em branco, no inicio da manhã laboral de um artista de rua. Não me quero mexer, embora o suor me incomode à medida que escorre. Porém, se me mexer a dor crescerá e eu não saberei suportar mais a espera.
E se ele chega e eu estiver limpando esta maldita secreção natural?

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