[Acto I]
- Olha...- Diz lá...
- O que vês?
- Mais uma pergunta idiota! Vejo o tecto, a brancura sem graça de um tecto alto.
- Só é tecto que vês?
- Se levantar um pouco o pescoço do travesseiro talvez consiga ver o candeeiro, mas de nada vale, pois nesta penumbra apenas veria sombras.
- Mesmo assim.. Lamento que nada vejas!
- Nada?
- Sim, nada. Numa noite estrelada como esta deverias ver todas as constelações do hemisfério Sul.
- Lá estás tu! A persiana tem o estore corrido para baixo, nenhuma estrela veria se levantasse o pescoço.
- Pois eu consigo ver, mas talvez seja eu.
- Que estrelas vês tu afinal?
-As do infinito. As estrelas que os teus olhos deixaram escapar quando me cravaste as unhas nas costas, me gritaste ao ouvido um segredo interminável de palavras soltas e te deixaste cair no meu regaço. Nessa altura não havia limites e as estrelas desprenderam-se inquietas. São essas que vejo.
- Ora, que estupidez. Vamos dormir agora, sim?
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