quinta-feira, 14 de julho de 2011

Xadrez.

Tinhas nas tuas mãos a jogada seguinte. Bastava pensar um pouco, olhar bem fundo nos olhos que brilhavam diante de ti, encantados com a tua exímia postura. Um cavalheiro, um Homem de palavra, honesto, no entanto, como ela, um jogador.
O mais pequeno erro de cálculo poderia por em causa todo o pequeno império de vitórias morais que vieste a construir à custa de muito sofrimento e humilhação. Afinal, a cordialidade e o savoir faire serão sempre os grilos falantes que se agitam e estremecem no teu ombro, quando aspiras sair um bocadinho do eixo direitinho que está mesmo por baixo do teu nariz.
Contudo jogas. Nem era vício, pois o jogo ocasional nunca matou ninguém; embora o jogo seja sempre um jogo. Há sempre vitória e derrota. Perder é controverso; ganhar é bom. Recebe-se a vitória de braços bem abertos, peito inchado e sorriso bem rasgado. No fundo, todos sabem perder, mas ninguém sabe como perder.
E ali, era contra ela que jogavas... Ou jogarias com ela? Para todos os efeitos estava em ti a decisão, pois a jogada seguinte era tua! Era só pensar um pouco. Para a assistência não parecia assim tão difícil, enquanto os olhavam ávidos por resultados, por vitórias e derrotas. Até que simplesmente jogaste. Assim, como se tratasse de um movimento involuntário, moveste, com toda a tua certeza, aquela peça negra, e ela perdeu.

E tu ganhaste.

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