sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Como construir um Castelo.

Os dias cinzentos voltaram. Como senti falta deles.
Vêm constantemente, sem avisar. Nem um postal (com a morada do destinatário escrita do lado esquerdo, onde há mais espaço para divagar sobre uma rua qualquer). Aparecem, assim. Com tal falta de aviso prévio que nem dão tempo para se por as contas em dia! Afinal, baldes de tinta, pincéis e diluente ainda se tornam despesa, com a frequência louca com que são adquiridos. E a mão de obra? As paredes de uma alma, de uma casa cinzenta não se pintam sozinhas! E o coração? Quem tratará de o remodelar? Dissolver todo o nevoeiro, abrir uma janela e deixar a fumaça voar, misturar-se nas nuvens da calçada. Alguém deve fazer esse trabalho ingrato! Como podem os dias cinzentos querer voltar se ninguém lhes dá o tratamento principesco que eles merecem? Eles que vêm, que apagam a cor que tão arduamente foi compondo a felicidade, lembrando, mancha após mancha, que a promiscuidade de um sorriso é tão fatal como a escuridão dos pesadelos. Só tornam a parede mais grossa, obrigam a tinta, a cor, a procurar preencher a lacuna que o vazio do cinzento deixou. Camada após camada.
Hoje, a casa já não tem paredes, de facto. Tem muralhas.

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