quinta-feira, 17 de março de 2011

Circo dos Sentidos.

A luz incidia sobre aquele corpo, que pendia no alto da estrutura de madeira esculpida. Tudo o resto, o mais ínfimo milímetro de atmosfera pesada, era escuridão. Ainda assim, brilhavam na penumbra milhares de olhares conferindo àquele negrume uma tonalidade prateada que tremia intermitentemente sob o balançar doce da luz incidente no torso nu.
Eram esses olhares crus que lhe transferiam toda a força que naquelas noites infinitas lhe nascia das entranhas, crescia e lhe rolava pela boca, num bramido tão suave , que quase apagava o brilho da escuridão.
Nem o pulsar dos milhares de pulmões parecia penetrar aquele silêncio imenso, pois as suas palavras, tão claramente articuladas, enchiam o espaço, com ondas, com um oceano sonoro, que se perdia na treva dos mil olhos, agora fechados, que escutavam.
Ela continuava pendendo, como se voasse, simplesmente. E na imagem onírica que se formava nas cabeças invisíveis que submissas a ouviam, o corpo nu, perfeito, ganhava asas e pairava numa escuridão tão Azul como uma tarde de Verão.
Ela continuava num outro mundo, só dela.

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