quarta-feira, 23 de março de 2011

Na cama não se fala sozinho.

- Hoje ela não está e dou por mim a falar sozinho.
Faz-me falta o declive que ela provoca nessa ponta tão distante, que se forma todas as noites do outro lado da cama, na beira mais recôndita do colchão, onde só me é permitido o acesso em sonhos! E só quando ela o permite.. Nos próprios sonhos, diga-se! Ela é mais manipuladora a sonhar do que quando está acordada! No sono dos vivos existem demasiadas as efemérides a interferir no seu pequeno espectáculo, que ela encena e protagoniza. Assim, nesse mundo dos sonhos o seu único espectador tem que aplaudir tão entusiasticamente, que quando ela se baixar na reverência final, uma multidão erudita surgirá, vibrando, na escuridão das suas próprias pálpebras.
Mas hoje ela não está. O palco de todos os sonhos está vazio e frio, embora eu tenha comprado o bilhete para mais uma sessão. Talvez, se eu fechar os olhos e tentar dormir, eu consiga produzir um espectáculo tão fantástico como o dela. Talvez, se eu fechar os olhos e tentar dormir, ela aplauda e os papeis se invertam. Talvez se eu..

Sem comentários:

Enviar um comentário